No Viaduto Paraíso, próximo ao Centro Cultural São Paulo, há dois anos o paulistano que passa por ali, não consegue deixar de se envolver com a ambientação criada pelo vendedor autônomo Marcelo de Oliveira, que decorou todo o caminho com livros expostos no chão, um charmoso carrinho utilizado para receber doações de gibis, CDs, DVDs e livros e uma placa que diariamente estampa frases motivacionais. O acervo é composto por clássicos como as obras de Machado de Assis e José de Alencar. Há, também, literatura americana, como Gay Talese e Nicolas Sparks. O foco são literaturas e ficções.
Marcelo é mineiro, tem 43 anos e começou a trabalhar bem cedo, vendendo livros em Belo Horizonte com seu pai. Como o negócio não era rentável, procurou outra atividade, o artesanato. Formou-se no ensino médio e fez um curso de artes em um centro cultural de sua cidade. Trabalhou por quatro anos – criando bonecos de madeira e materiais artísticos.
Em 1989, veio para São Paulo em busca de uma vida melhor. Logo se estabeleceu na região do Butantã e depois se mudou para o Paraíso. Seu sobrinho, Ricardo Gomes, de 19 anos, universitário, é amante da literatura brasileira e trabalha no sebo como auxiliar de vendas. Ele ressalta com entusiasmo que a sua atividade contribuí para o seu repertório, uma vez que cursa jornalismo.
A maior dificuldade de Marcelo e Ricardo são os roubos e os calotes que tomam dos fregueses, explicam. Diariamente os perigos aumentam e os ambulantes ficam receosos com os constantes assaltos aos clientes, que os alteram para tomarem cuidado. “ Muitas vezes pensamos em desistir do negócio por causa da falta de segurança, só que não é possível, pois dependemos da renda do sebo para viver”, desabafam.
Marcelo explica que “passar arte e cultura para as pessoas é uma missão, preenche o vazio”. Conta que em um determinado dia, sumiu uma apostila acadêmica. Passou uma semana, ela reapareceu acompanhada de um bilhetinho. Emocionado Marcelo mostra o conteúdo: “Perdoe-me por pegar sua apostila, quero agradecer, você me ajudou a estudar para o vestibular, prometo não roubar mais”. I
O Sebo ao Ar Livre fica “aberto” todos os dias – segunda a sexta-feira. Nos feriados e domingos, o sebo vai para baixo do Centro Cultural de São Paulo.
Reportagem Cassio Felipe